Arroz de festa #4 - o tempo
Quando os meninos eram menores eu tinha uma sensação constante de pressa, de insuficiência, de que ficaria pra trás, de que não daria conta de tudo. Eles cresceram um bocado e eu vi que em parte estava certa rs Não vai ser possível fazer tudo que eu desejo numa vida só, mas isso tem menos a ver com eles e mais relação com outras questões, como o sistema capitalista.
Tenho feito as pazes com o tempo. Percebi que ter pressa é um atalho para a ausência. É uma forma de estar sem a presença. A ansiedade de dar conta de tudo me rouba justamente aquilo que tenho medo de perder: o tempo. Mas não existe desperdício de tempo, né? Já dizia Antônio Cândido, ele é o tecido das nossas vidas. Não tenho que lutar com ele, só preciso vivê-lo em seu momento.
Nenhuma dessas percepções se deu da noite para o dia e fazer as pazes com o tempo é um processo que provavelmente não terá fim. Não acho que essa pressa tenha me atrapalhado em vivenciar a infância dos meninos, mas acho que me impediu de viver mais em mim mesma. A sensação de inadequação - pela falta de tempo - me fazia querer fugir de mim. Fui menos eu do que gostaria de ter sido porque estava muito apressada para ser outra eu.
É lógico que é mais fácil falar sobre isso e sentir diferente agora que eles estão maiores. Mas não falo de um pedestal tão mais alto do que a Camila do passado: comecei uma segunda graduação não tem tanto tempo assim (e talvez recomece ela, em outra faculdade). E só consegui dar esse passo (imenso, para mim) porque fiz as pazes com o tempo. É por saber que o presente é o melhor lugar pra se estar que também sei que posso recomeçar quantas vezes for necessário. Faz sentido por aí?
Paçoca
O livro que deu uma sacudida no meu processo terapêutico, que me fez olhar pra vida com maior gentileza e que eu pego semanalmente pra reler um outro trecho é a indicação da semana:
Sabe aquelas cuspidas na testa? Foi ele pra mim. Da primeira vez que vi pessoas indicando até pegar e ler deve ter passado coisa de 1 ano. 1 ano em que eu olhava para as pessoas lendo e pensava secretamente “autoajuda barata, duvido que tenha algo de diferente aí” - preconceito que logo nos primeiros capítulos foi quebrado com gooosto - e que bom! Virou meu livro de vida e cabeceira e eu indico pra absolutamente todo mundo.
Minha autonomia financeira no mundo capitalista vem da arte. Escrever e criar é minha contribuição para o mundo - mas pouco reconhecida como trabalho remunerado. Se você quer apoiar meu ofício, pode comprar uma arte minha em https://www.colab55.com/@milaaquelaquesabe ou fazer um pix de qualquer valor (qualquer valor mesmo! Até R$1,00) para mila.aquelaquesabe@gmail.com
Obrigada :)
Camila Medeiros